terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Diagnóstico, ele define quem sou?

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Diariamente recebemos clientes no consultório com diversos diagnósticos já definidos, seja por um profissional qualificado ou não. Isso significa dizer que nem sempre o diagnóstico é realmente condizente com a situação do cliente. Entretanto, ainda que assim seja, o diagnóstico pode definir quem é essa pessoa que chega? Afinal, para que serve um diagnóstico?
Já mencionei anteriormente sobre a prioridade de quem é a pessoa por trás do diagnóstico. Certamente, o diagnóstico não serve para definir ninguém, existe sempre uma individualidade, a singularidade do sujeito que vivencia o fato. Mas, a final, o que é diagnóstico e para que serve?
Qualquer pessoa tem acesso a todo tipo de informação na atualidade. A internet tem promovido a comunicação mundial e a propagação de diversos conceitos, sejam estes corretos ou não. Com isso, alguns termos pertencentes a um determinado saber científico, caem em uso popular, nem sempre mantendo seu sentido original. Todos já ouviram ou leram algo sobre “Transtorno Bipolar”, “Déficit de atenção”, “Hiperatividade”, “depressão”, dentre outros. O exercício de se enquadrar nesta ou naquela patologia tem sido uma epidemia. Infelizmente, as pessoas estão mais preocupadas em saber qual o rótulo que as define, do que descobrir como é ser quem de fato são.
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Um diagnóstico não é um constructo fácil. Sua elaboração implica um trabalho rigoroso de avaliação, interpretação e conhecimento do paciente e de um ou mais profissionais. O psicodiagnóstico deve ser elaborado por profissionais da área de saúde, como psiquiatras e psicólogos. Ainda que tenham estudado muito para isso, em alguns casos é preciso uma equipe de profissionais para fechar uma hipótese diagnóstica. É preciso muito estudo e experiência para que o diagnóstico seja elaborado. Não se trata apenas de um conjunto de sintomas, um determinado comportamento, um relato do paciente ou de um observado, é um conjunto de aspectos que fazem do diagnóstico um processo.
Historicamente o psicodiagnóstico foi sofrendo modificações e questionamentos, de acordo com a época e os avanços científicos. Pode ser elaborado por diversos profissionais, em diversas ocasiões e com diferentes objetivos. É de fato um processo que pode servir a áreas, como: a psiquiatria ou psicologia clínica, psicologia jurídica, recursos humanos, escola, esporte, etc. Mas, afinal, para que serve o diagnóstico na clínica?
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Diante de classificações padronizadas e aceitas em determinada época, os profissionais tem como recurso uma determinada fonte oficial. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, o CID-10, é adotado no Brasil como instrumento de processo diagnóstico. Assim, os profissionais de saúde têm uma referência padronizada que os auxilie em seu propósito especifico, de acordo coma área que atua.
No cotidiano clínico dos psicólogos, o psicodiagnóstico é um fio condutor para o nosso atendimento, mas não o dirige, apenas oferece possibilidades. Ou seja, o diagnóstico nos serve para que tenhamos a possibilidade de compreender o tipo de sofrimento que a pessoa pode estar vivendo. Não olhamos a doença, mas a pessoa e suas possibilidades. Para que tenhamos a noção de seus limites, o diagnóstico nos orienta, auxilia na compreensão de seu funcionamento. Assim, qualquer pessoa que se reconheça em todas as suas impossibilidades, abre espaço para ampliar os aspectos possíveis de si mesmo. É aí que a psicoterapia pode ajudar ao cliente, no reconhecimento de si mesmo em todos os aspectos, positivos ou não.
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Então, se disseram que você é “assim” ou “assado”, o que poderá fazer com isso? Pode escolher se lamentar se considerando assim, se acomodar ao ‘rótulo’ e sentir-se vítima de tal circunstância. Pode escolher descobrir como funciona para você “isso” que te classifica. Pode aprender e ensinar sobre como é ser você, com ou sem diagnóstico.
 Talvez, quem sabe, um diagnóstico sirva para prestar mais atenção a si mesmo. Talvez, um diagnóstico seja também uma oportunidade de olhar para dentro e nos revelar quem de fato somos. Quer concorde ou discorde do diagnóstico, o mais importante é tornar mais fácil revelar quem és. E, se o diagnóstico for o estímulo que nos conduz de volta para dentro de nós, viva o diagnóstico! Mas, que nunca sirva para me dizer quem sou, me enfaixando em nomenclaturas, pois sempre existe a forma de cada um estar no mundo, independente da classificação que o mundo lhe dá. E, é essa pessoa que vive e realiza coisas, não sua categoria de ser.
Não podemos descartar a função do diagnóstico profissional para a que haja a indicação do tratamento adequado. O diagnóstico pode definir se é necessário apenas terapia, terapia em parceria com psiquiatria – o que pode significar medicação- encaminhamento a outro profissional ou apenas uma das modalidades acima. Existem situações nas quais a parceria, entre o psiquiatra e o psicólogo, é necessária, pois existe uma alteração química no organismo que requer medicação. Nesses casos, há que ser um trabalho em conjunto para que seja verificada a permanência ou retirada da medicação, tempo de aplicação, dose necessária, entre outras ações. Pode ser necessário o acompanhamento de outro profissional, constituindo uma equipe multidisciplinar. O mais importante é que o cliente tenha em mente que não é qualquer tipo de conflito, dor ou desequilíbrio que pede a prescrição de medicamento. É também preciso saber que tais medicações, quando necessárias, não são soluções mágicas e imediatas. A maior parte da medicação psiquiátrica exige tempo para os devidos ajustes e alcance de seu objetivo. É importante, sempre, que exista cooperação daquele que é o mais interessado: o cliente.
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Devo salientar que nem medicação, nem psiquiatra, nem psicólogo são “coisas de maluco” como alguns insistem em dizer. Qualquer ser humano pode passar por diversas situações que exijam a ajuda de um dos profissionais acima ou de medicação, sem que isso o defina como psicótico. Depressão, por exemplo, até bem pouco tempo era considerada “frescura”, “chilique de bacana”, dentre outros termos. Hoje, é pública a constatação da presença deste mal em diversas pessoas, independente de classe social ou credo, desconstruindo assim tais afirmações populares. E, além do mais, a classificação do que é considerado como “loucura” tem sofrido diversas alterações ao longo da história, mas isto é assunto para outra ocasião. Importante, agora, é destacar que existem diversas outras possibilidades de desequilíbrio e desencontros humanos que podem ser cuidados pelos profissionais descritos, seja com medicação ou não. 
Parar de fumar, por exemplo, é uma das situações que podem requerer a ajuda de medicação psiquiátrica. Assim como situações, previsíveis ou não, que ocorrem em um momento que nos atinge, tornando-nos menores e desamparados, são momentos de perdas, lutos, doenças, acidentes, catástrofes, etc. Dependendo do momento e do tipo de sintoma desenvolvido, há a possibilidade de não compreendermos o que acontece e passamos a agir como se fossemos outra pessoa. Há quem pense até que está ficando louco. Mas, de fato, é o momento de consultar o profissional que pode ajudar, seja psicólogo ou psiquiatra.
A vida é feita de altos e baixos. Existem inúmeros conflitos, perdas e dores em nosso caminho. Entretanto, em alguns momentos, estes são maiores que nós, nos tornando desamparados, desequilibrados e perdidos. Alguns episódios podem nos tirar do trilho, nos deixar sem chão, perdidos, sem qualquer orientação... Não sabemos o que fazer, paralisamos. As coisas podem ficar confusas, é hora de procurar ajuda profissional. Quanto ao diagnóstico, deixe isso para o profissional adequado, preocupe-se com você mesmo e suas questões. Se comprometa com suas necessidades e tenha coragem de reconhecer o momento de lançar mão do serviço, que poderá ajudar a encontrar o caminho de volta para si mesmo. Você é dono do seu projeto existencial, mas é muito bom poder contar com a ajuda de um consultor que possa ajudar no processo!

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